Moda masculina: Inspiração beatnik

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Nomeada pelo escritor Jack Kerouac, a geração beat foi um forte movimento de contracultura que surgiu em meados dos anos 1950 e foi formado principalmente por jovens escritores, que, naquela época, não queriam ser apenas sonetos, desejavam quebrar paradigmas na literatura e na própria existência. É claro que isso se refletiu no modo de vestir, despreocupado com as tendências de moda da época, mas com a preocupação, mesmo que, às vezes, inconsciente, em se expressar pela indumentária.

beatniks

O termo beat serviu para identificar o mundo dos vigaristas, daqueles que não faziam parte do sistema, do termo em inglês beatendown, que, traduzindo livremente, significa oprimido, rebaixado e foi uma saída para o que eles chamavam nas universidades de geração perdida. Allen Ginsberg e o próprio Kerouac foram os principais representantes desse grupo.

beat

Os seguidores dos beats adotaram uma postura boêmia e hedonista, não se importavam com roupas caras e esnobavam o luxo. Viviam de jazz, álcool e poesia. Nada mal, hein?

Moda Antimoda

A roupa mais formal marcou o estilo do movimento. O preto é a cor mais presente no guarda-roupa beatnik, talvez porque se mantém limpa por mais tempo. A produção local também é valorizada pelos adeptos desse movimento.

beatnamoda

É claro que o mundo da moda ama esse visual, e vários editoriais e coleções se inspiraram nos beats (que eles não nos escutem). A TNG lançou uma coleção totalmente inspirada neles. #euquero

Camisas retas de botão, blusas com a gola alta, listradas ou brancas, gravatas, calças sociais e pregueadas, sapatos clássicos, óculos de aro grosso ou wayfarer e bolsa a tiracolo são peças que marcam o universo, assim como barba por fazer e a icônica boina francesa.

james franco beat

No cinema, existem filmes que retratam essa época, cheia de paixão à queima roupa! É o caso de Holw, no qual James Franco interpreta o querido poeta Allen Ginsberg, que foi acusado de obscenidade pelo poema que dá nome ao filme.

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Recentemente, vi o maravilhoso Kill Your Darlings, que retrata o surgimento do movimento e, dessa vez, tem Daniel Radcliffe interpretando o poeta. Confesso que achei que a atuação fez desaparecer a cicatriz de raio da testa do ator.

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Na estrada (On the road), de Jack Kerouac, virou filme em Hollywood dirigido por Walter Salles
Na estrada (On the road), de Jack Kerouac, virou filme em Hollywood dirigido por Walter Salles

Confesso que, quando mais jovem, alimentei o sonho impossível de viver nessa época e tive minhas noites de poesia no bairro Benfica, reduto dos poetas iluminados aqui em Fortaleza. Há umas semanas eu fui trabalhar e quis fazer uma referência a essa época.

diego beat

O assunto é longo e daria pauta para outra coluna, mas encerro com um trecho de Holw (Uivo), porque a verdadeira essência beatnik é a poesia livre:

"Eu vi as melhores cabeças da minha geração destruídas pela loucura,] famintos histéricos nus,] se arrastando na aurora pelas ruas do bairro negro na fissura de um pico,] hipsters de cabeça feita anjos ardendo por uma conexão celestial e ancestral com] o dínamo estrelado ancestral na maquinaria da noite,] que pobreza e farrapos e olhos ocos e loucos sentaram fumando na escuridão] sobrenatural dos apartamentos sem calefação flutuando pelos tetos das] cidades contemplando jazz,] que despiram seus cérebros ao Céu sob o El e viram anjos muçulmanos] cambaleando sobre telhados e iluminados,] que passaram por universidades com olhos serenos e radiantes alucinando] Arkansas e tragédias de luz-Blake entre os mestres de guerra,] que foram expulsos de universidades por pirarem & publicarem odes obscenas nas] vidraças do crânio,] que se encolheram em quartos barbudos e de cuecas, queimando dinheiro em]cestos de lixo e escutando o Terror pela parede,] que levaram uma geral nos pentelhos voltando via Laredo com] um cinturão de maconha rumo a Nova York,] que engoliram fogo em hotéis de quinta ou beberam terebentina no Beco do] Paraíso, morte, ou purgatoriando seus torsos noite a noite] com sonhos, com drogas, com pesadelos despertos, álcool e caralho e escrotos e fodas infinitas [...]"
Allen Ginsberg

Qualquer dúvida ou sugestão: diegojgregorio@gmail.com

No instagram eu sou @diegojgregorio

Diego Gregório
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