Filipe Viaja: Uma coluna sobre ir….

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filipe teixeira portugal

[Nota da editora Alinne]

O Filipe eu conheço há um tempão. Mesmo. Tipo mais de 10 anos. Um cara das Letras, da música boa, das conversas intermináveis, dos shows e das cervejas. Aí ele foi embora. Morou na Colômbia, veio em Fortaleza só de passagem e foi pra Portugal.

De lá, o Filipe Teixeira conversa com brasileiros espalhados por aí, em um podcast que virou referência, chamado O Nome Disso é Mundo. O Filipe fala bem, mas escreve melhor ainda. E foi a meu convite que ele passa, agora, a publicar textos quinzenais aqui no blog.

O tema é ir: de férias, por um tempo, pra viver. Pra começar, a questão principal na hora de mudar de país – a prática do desapego.

Exercitando o desapego

Tyler Durden disse que as coisas que você possui acabam possuindo você. Eu não sou tão radical assim. Acho que você pode ter coisas e gostar delas, mas sem ter necessariamente essa relação simbiótica. Ao longo do tempo você vai juntando coisas e se acostumando com elas, como se fossem bichos de estimação. E repito: não há nada de mais nisso, desde que não seja algo doentio, claro.

Eu estava nesse meio termo, mas dava muito mais valor às coisas do que hoje. O ponto de virada foi quando comecei a viajar e as experiências começaram a pesar mais que as coisas. Porém não foi assim tão fácil me desapegar de um estilo de vida de tantos anos e passar a ter outro, afinal certos hábitos, certos confortos são complicados de se abandonar. E foi o processo de mudar de país duas vezes que me obrigou a pôr em prática a abnegação das coisas em nome de vivências mais abstratas.

indo embora

Colômbia
No final de 2011, surgiu a oportunidade de eu ir morar na Colômbia. Não pensei duas vezes e aceitei. Sempre quis viver esse tipo de experiência e por isso eu era só empolgação. Tirei o passaporte, pedi demissão e talvez o tempo livre tenha feito com que a ficha começasse a cair.

Passei a encarar o fato de que eu não ia mais ter o conforto que todas as minhas coisas me proporcionavam. Ao mesmo tempo veio a dúvida se isso seria compensado pela nova vida. Mas a decisão já estava tomada. Vendi o carro, cancelei a SKY e fui embora pra Colômbia, onde eu ganhava quase 4 vezes menos que no meu antigo trabalho no Brasil, além de andar a pé e não ver TV.

E os cinco meses que passei lá foram suficientes pra desfazerem a dúvida se valia a pena trocar minhas coisas todas por um novo estilo de vida.

Portugal
Entre ir embora de Medellín e vir pra Lisboa, passei dois meses no Brasil. E ao contrário do que aconteceu cinco meses antes, eu estava completamente sem dinheiro, e os gastos seriam muito maiores – ainda por cima em euro. Nesse momento é que eu realmente tive que pôr em prática o verdadeiro desapego.

Pra juntar a quantia necessária, precisei vender muitas coisas, inclusive meus (quase 200) DVDs. Mas quando me dei conta de que alguns ainda estavam no plástico, aconteceu a epifania: o foco era ter, não necessariamente usufruir dos objetos. Depois de me aperceber disso, foi mais fácil lidar com o fato de não possuir mais aqueles filmes (embora eu jamais vá me desfazer de De Volta para o Futuro).

Ao chegar a Lisboa, o aprendizado continuou, principalmente porque aqui passei a viajar muito mais. Hoje penso duas vezes antes de comer fora, em vez de comer em casa, ou antes de pegar um táxi, em vez de ir a pé ou usar transporte público, pois essa grana economizada vai direto para o orçamento da próxima viagem.

Em resumo, vale a pena abdicar de certas coisas, certos luxos, em nome das sensações incríveis que uma viagem pode proporcionar.

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