Filipe Viaja: Passo a passo do banho turco

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efeso turquia

Como se chama churrasco grego na Grécia? Ou pastel de Belém em Belém? Ou molho inglês na Inglaterra? Quem nunca fez essa piadinha? Quem nunca?

Pois é, na Turquia tem o banho turco, e a resposta para a inevitável pergunta não é apenas “banho”. Aquilo é um ritual, um processo de várias etapas, do qual tomei parte meio por acaso.

Eu estava em Éfeso, na parte asiática do país. Nessa cidade está a casa onde a Virgem Maria teria vivido e também as ruínas do templo de Ártemis. Comprei o passeio numa agência de viagens em Istambul, de onde parti às 21h30 de um sábado. Onze horas depois, às oito e meia da manhã, cheguei a Éfeso.

efeso casa da virgem maria

Não dormi durante a viagem, porque não consigo dormir em ônibus ou avião ou qualquer outro lugar que não seja uma cama, a não ser que a situação esteja bem crítica. Além disso, passei o dia andando sob um sol absurdamente quente. Às cinco e meia da tarde, eu estava de volta à agência de viagens em Éfeso, morto de cansado e tendo tomado o último banho 20 horas atrás. E meu ônibus de volta para Istambul seria apenas dali a quatro horas.

Eu definitivamente precisava de um banho. Foi então que o agente me sugeriu ir a um banho turco. Ele me deu até um cartão da agência que me daria desconto lá no estabelecimento, mas é claro que não consegui, porque barganhar na Turquia é uma tarefa para poucos, e eu não sou um deles.

efeso

Cheguei ao local, entreguei o cartão da agência e disse “Eu quero um banho”. É muito estranho. Então o senhor da recepção me deu duas toalhas (mas não como as que conhecemos, elas são na verdade lençóis mais espessos que o normal) e indicou que eu entrasse em uma pequena sala, onde eu deixaria minhas roupas. Saí da salinha com os tamancos de madeira que lá estavam e o senhor da recepção apontou para uma porta, por onde eu deveria entrar.

Ao passar pela porta, tive uma vertigem de tão quente que estava o recinto. No centro do lugar, havia um hexágono ou octógono ou outra forma geométrica em mármore sob o teto abobadado. Nas laterais do recinto, havia vários chuveiros. A instrução foi “tome banho e deite no mármore”. Foi o que fiz. E ao deitar no mármore entendi a expressão mármore do inferno. Que calor! (Já tinha um cara lá cozinhando. Perguntei de onde ele era, e ele disse “New York”. Por que americanos não dizem que são americanos? Sempre dizem a cidade ou o estado?)

Em determinado momento, entra um senhor gordo, de bigode, enrolado em uma toalha, calçando tamancos e diz “Next!”. O americano foi. Eu estava deitado no mármore olhando para cima, então não vi nada. Minutos depois, “Next!”. E então eu fui. Ao lado da porta de entrada, havia uma “cama” de mármore, mas não estava aquecida. Deitei na tal cama de mármore e o senhor de bigode simplesmente me deu um banho. Fico pensando no diálogo de apresentação quando esse cara conhece uma pessoa nova:

– Tudo bem?
– Tudo bem.
– E então, faz o que da vida?
– Eu dou banho em caras.

Primeiro ele vestiu umas luvas que pareciam pantufas, mas no lugar onde seria a sola é na verdade uma lixa. E posso garantir que ele não estava preocupado em ser delicado. Aquele processo limpou até meus pecados de tão convicto que o senhor de bigode estava ao realizar seu trabalho. Depois rolou um enxague e então passamos para a próxima etapa: ensaboar.

O “banhador de caras” encheu uma espécie de fronha com sabão e passou em mim, da cabeça – sim, serviu de xampu também – aos pés. Depois disso, novo enxague. Entre uma etapa e outra, ele só dizia “Lay down” e “Sit up”. Nada além disso.

A orientação seguinte foi tomar outro banho e deitar novamente no mármore. Fiquei lá cozinhando por uns 10 minutos e ao sair da sauna, os 30 graus de Éfeso ganharam o status de clima ameno. No hall, o bigodudo me recebeu com uma pergunta: “Oil massage?”. Pensei “Tá no inferno? Abraça o capeta!”. E ele deu a massagem com a mesma delicadeza que deu o banho.

Tudo isso custou 60 liras turcas (mais ou menos uns R$ 68), 45 do banho mais 15 da massagem. O desconto virou história, mas muito por causa da minha total falta de habilidade em barganhar. Saí de lá, posso dizer, de alma lavada e pronto pra enfrentar mais 11 horas de ônibus de volta a Istambul.

 

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