“Moda sob medida” e o estilo além da roupa

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Foto: Davi Magalhães
Danielle em palestra no DFB 2018. Foto: Davi Magalhães

No Dragão Fashion desse ano, conhecemos Danielle Ferraz, que é consultora de moda e jornalista e escreveu, junto com a também jornalista Penha Moraes, o livro “Moda sob Medida. Um guia prático de moda para a vida real”. Desde então estive lendo o livro, que traz dicas e exemplos de como se vestir de modo a valorizar seu estilo pessoal e sobre outros assuntos ligados ao guarda-roupas.

Nossos livros autografados por Danielle Ferraz
Nossos livros autografados por Danielle Ferraz

O livro “Moda sob medida” tem muitas informações extremamente importantes, como dicas de combinação de cor e estampas; desde combinar sapatos com vestidos; que tipo de sapato é melhor para cada ocasião – por exemplo os sapatos ideais para casamentos campestres são as sandálias de meia pata e salta grosso, ou anabelas mais refinadas, porque se tiver grama, você não vai querer estar de salto fino -; até algumas combinações prontas para quem quer aliar conforto e estilo, mas não sabe como; e dicas de como lavar roupas.

Dicas de combinações
Dicas de combinações

Logo no começo do livro, me encantei com o texto chamado “A moda é comportamento”, que inicia com uma citação de Lars Svendsen em seu livro “Moda: uma filosofia”, que diz “A moda afeta a atitude da maioria das pessoas em relação a si mesmas e aos outros.” É algo que todo mundo meio que sabe, mas não se dá conta até que alguém diga ou até ver em algum exemplo prático, como acontece em programas de televisão onde uma pessoa recebe consultoria de estilo e ao entender melhor como se vestir, sente-se renovada.

"democratização da beleza" não é de se apaixonar por uma frase dessas?
“democratização da beleza” não é de se apaixonar por uma frase dessas?

Antigamente eu amava esse tipo de programa, havia um chamado “Esquadrão da Moda”, em que os apresentadores além de jogar fora todas as roupas do participante, antes disso faziam piadas sobre elas. Na época, com meus quinze anos ou perto, achava muito divertido e tentava sempre absorver as dicas que davam lá. Depois de alguns anos percebi que não havia preocupação com a personalidade da pessoa, eles apenas davam  dicas genéricas, que se aplicavam a qualquer pessoa, e tentavam sempre esconder os “defeitos”, como barriga, ou quadril largo, coisas que hoje a gente sabe que não tem necessidade, se você está se sentindo bem daquela forma.

Danielle Ferraz e Penha Moraes, autoras do livro
Danielle Ferraz e Penha Moraes, autoras do livro

Minhas partes preferidas do livro são os momentos em que as autoras trazem contextos históricos de peças e estilos – que foi possível graças à sua experiência regressa e uma bibliografia incrível -, e também as explicações sobre cada peça, como as dedicadas especialmente aos acessórios, que traziam ainda as melhores formas de usar.

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E é nessa frase que começo minha crítica mesmo ao livro: “as melhores formas de usar”. No início do livro, a ideia a ser passada é a de que cada um faz seu estilo e ele traduz sua essência, o que realmente acredito, mas em alguns momentos senti que havia certas contradições a estas falas. Na parte sobre plus size, por exemplo, uma das dicas é “abuse das lingeries modeladoras”; em outro momento coloca aquelas ultrapassadas e limitadas formas de cada corpo, com a observação “o segredo para valorizar sua silhueta é NÃO dar mais volume a áreas naturalmente volumosas”.

Trecho do livro com participação especial do meu comentário
Trecho do livro com participação especial do meu comentário

Vamos combinar: essas ideias são muito ultrapassadas! Já falamos aqui, vimos em outros sites, no youtube, no instagram, em todo lugar já se sabe, cada pessoa se veste como quer e como se sente bem. A ideia de que uma pessoa gorda DEVE esconder, ou espremer em uma cinta, ou “disfarçar” sua barriga para estar bem vestida, é tão ultrapassada, que parece aquelas revistas antigas que tinham fotos de pessoas (provavelmente sem elas saberem que estavam sendo fotografadas) e abaixo a avaliação, se a roupa estava certa ou errada e porquê.

Recorte de uma revista Manequim, de 2003
Recorte de uma revista Manequim, de 2003

Outra coisa que me incomodou um pouco foi que em várias partes do livro havia dicas de roupas que todo mundo PRECISA ter no guarda-roupas, o que me lembrou do nosso vídeo em que a Carol Garcia, consultora de estilo da Bureau de Estilo, respondeu perguntas que fizemos. Uma das perguntas foi se existia alguma peça que a gente precisava ter no armário, ao que ela respondeu que não existe uma peça que todo mundo precisa ter, porque isso vai de cada pessoa. Ou seja: não acreditem nessa história de que todo mundo TEM QUE TER um terninho, ou uma camisa branca, ou uma saia lápis, porque se você não precisar dessas peças no seu dia-a-dia, tê-las só vai entulhar seu guarda-roupa.

Por exemplo, para tirar minhas fotos de formatura tive que usar um blazer, e mesmo que antes disso nunca houvesse precisado de um, pensei “melhor comprar um conjunto de calça e blazer, porque depois de formada devo precisar”, resultado: usei nas fotos e nunca mais. Outra vez comprei uma camisa branca de botão, para outro evento único, pensando que também seria um bom investimento, porque depois dali, ainda poderia usar muito, mais uma vez estava enganada, a camisa passou anos no meu armário porque eu sempre pensava “vai que” e nunca “ia”, até que decidi reforma-la, tirei as mangas e a gola e pedi pra minha mãe fazer um bordado, agora eu uso.

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Blusa que reformei, com detalhe para o bordado que minha mãe fez

A partir dessas peças que transformamos, passo para a minha parte preferida do livro: “Guarda-roupa inteligente”, que é quando elas falam sobre moda consciente. Não é extremamente completa, mas tem muitas dicas interessantes e dados reais, que fazem o leitor não só refletir sobre suas ações, como aprender a regular os impulsos, resistir a promoções que não valem a pena, fazer com que as roupas durem mais e até pensar melhor sobre as roupas que tem. Segue um pequeno compilado de trechos que achei muito bons dessa parte.

Minha conclusão é de que o livro traz muitas informações interessantes e até importantes, principalmente para quem não entende muito de moda e quer entender mais, e pra quem já conhece também, porque os contextos históricos dos estilos e peças são realmente muito legais. Mas, como em qualquer publicação, não precisa seguir tudo à risca, temos sempre que manter a ideia de que estilo é estar bem consigo e a roupa só vem para completar isso.

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