Documentário “Gorda”, gordofobia e representatividade

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Vi uns dias atrás a Ira Lemos, do Tamanho 50, compartilhar no Facebook o teaser de um curta chamado “Gorda”. Assisti, achei incrível, porque é um documentário que fala sobre ser gorda em um mundo magro, entre outras coisas. Curti a página do filme e fiquei esperando o lançamento.

Outros dias depois disso, comecei a pesquisar no YouTube gente que me ensinasse a descolorir o cabelo e pintar de colorido. Vi vários, mas o que mais gostei foi o de uma menina linda, bem doidinha, dizendo que pintava o cabelo com anilina de madeira, que ia misturar umas cores e, se ficasse ruim, não ligava. Gostei de cara, sou bem assim também.

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Fui ver os outros vídeos do canal dela, o “Tá, querida” (nome genial, aliás), e ela tem um vídeo cujo título é “Como ser maravilhosa”. Gente. GENTE. Amor demais. Luíza Junqueira tem cabelo colorido, estudou cinema, não depila o sovaco porque adora tirar as outras pessoas da zona de conforto delas, é inteligente, engraçada, linda e… gorda.

Sim, tá liberado ser linda e gorda ao mesmo tempo.

Tá liberado se sentir bem com o seu corpo, mesmo ele não sendo iguais aos das capas de revista.

Tá liberado se achar poderosa, sexy, gostosa, o que você quiser.

Tá liberado se amar acima de tudo.

Bom, daí que a Luíza, coincidentemente, é a diretora do doc “Gorda“. Já pensou? Quis ainda mais ver. O filme saiu lá no canal dela no último dia 21, e eu precisava compartilhar aqui. Assista agora, que é rapidinho, mas bate na gente como um tiro.

Dor no coração, identificação, vontade de chorar, mas, ao mesmo tempo, uma pontinha de esperança, aquela que faz a gente terminar cada dia com a certeza de que foi feliz (ainda que tenha sofrido preconceito ou tentado entrar em uma roupa que não cabia).


Sinopse: GORDA aborda a relação de três mulheres gordas com seus corpos, cujos depoimentos irão revelar vivências únicas. Diferentemente da forma difamatória como geralmente são representadas na maioria das produções culturais, o documentário concede espaço para que essas mulheres falem por si – e isso muda tudo.

Representatividade e gordofobia

O que falta à maioria das mulheres gordas é empoderamento. Autoconfiança, amor próprio, acreditar que é uma mulher como qualquer outra, mesmo estando acima do peso. E como se consegue isso? Com representatividade. Fica difícil a gente se amar se a personagem gorda da novela é bobona, aceita numa boa estar em um relacionamento abusivo e é alvo de piadas sobre seu corpo o tempo inteiro.

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É difícil se sentir representada, se sentir bem, se sentir gente se na mídia só tem gente magra, plastificada e esculpida pelo bisturi. Aí a gente começa a ver isso mudando, aos poucos, quando a Playboy brasileira publica a primeira foto de uma gorda em suas páginas. Não foi pelada, mas a jornalista Ju Romano está simplesmente maravilhosa e com pouquíssimo Photoshop pra representar a galera plus size.

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Jaqueta LINDA da Chica Bolacha – sonho de consumo! haha!

Ela também já tinha sido capa da Elle – pelada!

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Logo na sequência, a Ju estrelou uma campanha irada com a também jornalista Flávia Durante, que também é DJ e criadora do Bazar Pop Plus Size, que movimenta o mercado plus nacional em edições periódicas em São Paulo. Elas se uniram pra falar justamente sobre empoderamento no filme da TNT Energy Drink, dizendo que não é você que precisa se encaixar na moda, é a moda que precisa se encaixar em você.

Pra mostrar que se amam e amam o próprio corpo, elas mergulham numa piscina, usando, claro, roupa de banho. E sabe o que aconteceu? Elas foram bombardeadas no Twitter e no Facebook com mensagens de ódio tão terríveis que até a Flávia, que é símbolo do empoderamento plus, seguríssima, balançou.

Escreveu dois desabafos em dois dias, que reverberaram no blog da Nina Lemos no site da revista TPM. Ela trancou o perfil no Twitter pra quem ela não seguia pra não precisar ler gente ignorante a chamando de nojenta e falando que ela ia morrer.

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Mostrar uma gorda de biquíni não é fazer apologia a gordura. É uma mensagem de amor próprio. Só quem é gorda sabe quantas vezes deixou de ir à praia, de se divertir com os amigos, com a família, por vergonha de mostrar o corpo. É MUITO TRISTE quando isso acontece. Mas não precisa acontecer, não mais.

Porque tem que ter gorda na praia, sim! Tem que ter gorda na piscina, sim! Tem que ter gorda feliz, sim! Se você acha que não, o problema está em você, não na gente. Vamos parar de cagar regra pro corpo dos outros? Se acha feio, é só não olhar.

Ninguém tá perguntando sua opinião, tá?

Alinne Rodrigues

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